Brasília, Brasil — 16 de abril de 2025
Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru e figura central em algumas das mais controversas investigações de corrupção na América Latina, chegou a Brasília nesta quarta-feira a bordo de uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), após ter o pedido de asilo diplomático aprovado pelo governo brasileiro.
A chegada de Heredia ocorre em meio a crescentes tensões políticas no Peru, onde ela e seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala (2011–2016), enfrentam acusações relacionadas a supostos recebimentos de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht, no âmbito da operação Lava Jato. Ambos negam as acusações, classificando-as como perseguição política.
Acolhida brasileira
Fontes do Itamaraty confirmaram que o asilo foi concedido por “razões humanitárias” e com base na “impossibilidade de um julgamento justo” no atual contexto político e institucional peruano. Segundo a diplomacia brasileira, a decisão foi tomada após “análise cuidadosa” da situação jurídica de Heredia e consultas com organismos internacionais de direitos humanos.
A ex-primeira-dama desembarcou na Base Aérea de Brasília no início da tarde, sob rígido esquema de segurança. Não houve pronunciamento oficial de Heredia à imprensa, mas sua defesa divulgou uma nota afirmando que ela pretende “buscar refúgio e reconstrução pessoal e familiar” no Brasil.
Repercussões no Peru
A concessão de asilo provocou reações imediatas em Lima. O Ministério das Relações Exteriores do Peru emitiu uma nota de protesto ao governo brasileiro, expressando “preocupação com a ingerência em assuntos internos” e anunciando que irá “avaliar as implicações diplomáticas da decisão”.
Congressistas conservadores e membros da oposição acusaram Heredia de “fugir da justiça” e exigiram explicações do governo peruano sobre como ela conseguiu sair do país. Fontes extraoficiais indicam que Heredia teria buscado abrigo na embaixada brasileira em Lima nas últimas semanas, onde permaneceu até que o asilo fosse oficialmente concedido.
Implicações internacionais
Especialistas em direito internacional observam que o caso pode reabrir o debate sobre os limites do asilo diplomático na América Latina. “Esse é um instrumento legítimo, mas altamente sensível. Pode afetar seriamente as relações bilaterais entre países vizinhos”, disse Luciana Torres, professora de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
O Brasil tem histórico de concessão de asilo político a líderes e figuras públicas envolvidas em disputas políticas na região. Em 2019, o país concedeu asilo ao ex-ministro boliviano de Comunicação, e antes disso, em 2013, abrigou o senador boliviano Roger Pinto Molina.
Um novo capítulo
Nadine Heredia foi uma das primeiras-damas mais influentes da história recente do Peru. Cofundadora do Partido Nacionalista, ela teve papel central no governo de seu marido e chegou a ser cogitada como sucessora política de Humala. A derrocada do casal político se deu com o avanço das investigações da Lava Jato no Peru, que levaram a processos judiciais e prisões temporárias.
Agora, longe de Lima, resta saber qual será o papel de Heredia no exílio. Embora aliados próximos indiquem que ela pretende se manter discreta, interlocutores do governo brasileiro não descartam a possibilidade de que, em algum momento, Heredia venha a se manifestar publicamente sobre a crise política em seu país natal.
O governo brasileiro, por sua vez, tenta equilibrar sua posição: oferecer abrigo em nome dos direitos humanos, sem transformar a questão em um impasse diplomático regional.
